quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Poesias

Dessa vez escolhi Carlos Drummond de Andrade para ser o poeta do ano. Porém, devido a altíssima produtividade do escritor, ao invés de selecionar 24 postagens para serem postadas em quartas-feiras intercaladas durante este ano, estenderei também para o ano que vem. Assim, Drummond fica sendo o poeta do ano para 2014 e 2015.

Para começar, o meu preferido:

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
 
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
 
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
 
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
 
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
 
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
 
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

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